terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mallu Magalhães no Festival Coquetel Molotov

por Thais Martins


Dia 20 de setembro, por volta de 22h. Teatro da Universidade Federal de Pernambuco lotado. O público aparenta ter, em sua maioria, 16, talvez 17 anos. O evento: um show de folk. Esta informação, se dita há um ano, soaria absurda; parece estranho que tantos adolescentes se interessem por um gênero tão, digamos, antiquado. O motivo do súbito interesse juvenil é a estrela mirim Mallu Magalhães, 16 anos, cantora e compositora folk.

Mallu vem arrecadando fãs em todo o país não apenas por sua música, mas também por seu jeitinho tímido de garota franzina. No show, que era parte do festival Coquetel Molotov, ela não poderia ser diferente. Ao ser anunciada, ainda esperou uns dois a três minutos para finalmente subir ao palco, deixando impacientes os adolescentes que a esperavam bem em frente ao palco, querendo, imagino, estar o mais próximo dela quanto fosse possível. Enfim ela sobe, diz um simples “Boa noite”, bastante tímida, e já começa a tocar, acompanhada de sua banda.

A partir deste momento, Mallu assume outra postura. Mostra-se segura e confiante em seu repertório, que conta com músicas como Tchubaruba – seu maior sucesso que, através do myspace (www.myspace.com/mallumagalhaes), a catapultou na cena independente de São Paulo –, J1 – música tema de um comercial de operadora de telefonia celular –, e Folsom Prison Blues – cover de Johnny Cash.

Mallu executa suas músicas – ora cantadas em inglês, ora em português – com uma maturidade inesperada para uma garota de sua idade. Certo momento, Mallu anuncia: “Eu quero chamar ao palco dois bancos e o Marcelo Camelo”, causando histeria da platéia. Eles então tocam a música Janta, parceria de Camelo e Mallu, presente no CD solo lançado este ano pelo ex-Los Hermanos. O público, catártico, cantava tão alto que tornava difícil a audição do som amplificado dos microfones de Mallu e Camelo. Acompanhando a letra como podiam, alguns fãs chegavam até mesmo a inventar palavras em inglês quando não sabiam as originais, apenas para mostrar que sim, conheciam aquela música.

Foto: Alinne Rodrigues
Mallu Magalhães e Marcelo Camelo

E é exatamente esse sentimento “eu preciso mostrar que conheço” que permeia todo o show. Não apenas pelo público, mas também pela própria Mallu, que sempre fez questão de demonstrar que tem boas referências – e por boas referências leia-se aquelas consideradas de qualidade pelo público cult que a consagrou como a princesinha do pop nacional. Mas seu nome vir sempre acompanhado aos de Bob Dylan e Johnny Cash, grandes símbolos da música folk, soa mais como uma auto-afirmação adolescente do que equivalência musical. Apesar de parecer madura em alguns momentos durante o show, Mallu é apenas uma menina, e isso se reflete em sua música. Quando canta o cover de Johnny Cash, canta que atirou em um homem em Reno apenas para vê-lo morrer (But I shot a man in Rheno / Just to watch him die). Quando canta sua música autoral, canta sobre garotas chorando sob as árvores (When i saw her she was just crying / Under my favourite tree).

Então o show prossegue, Mallu mostrando quão talentosa pode ser uma garota de 16 anos e o público, maravilhado com todo o carisma da cantora, mostrando que conhecem e aprovam a nova sensação do cenário alternativo brasileiro.

Veja um trecho do show:

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O Irã nos quadrinhos e nas telas de cinema

Por Raquel Dantas


Histórias ambientadas no Oriente Médio têm conquistado grande quantidade de leitores mundo afora. Apostando no mesmo sucesso alcançado pelos livros, muitas delas acabam sendo levadas para as telas de cinema, como é o caso da adaptação de O Caçador de Pipas - best-seller do autor afegão Khaled Hosseini, um dos filmes mais aguardados no início deste ano.

Algumas dessas histórias, porém, não chegam a fazer tanto sucesso por aqui, mesmo sendo fascinantes. Os quadrinhos de Marjane Satrapi são um bom exemplo. Alguns críticos acreditam que o formato HQ ainda não consegue atrair públicos diversificados como os tradicionais livros de literatura em prosa. No entanto, Persépolis tem algo peculiar que já o torna interessante: é escrito e desenhado por uma iraniana, além de ser autobiográfico. Marjane consegue levantar questionamentos políticos, religiosos e éticos fazendo uma dosagem bem equilibrada entre drama e humor. Uma boa forma de ver a realidade de um país que nós pouco conhecemos.

O enredo de Persépolis nos mostra o desenrolar histórico da queda do Xá (rei), a ascensão da Revolução Islâmica em 1979 e a guerra contra o Iraque, através dos olhos da criança que queria ser profetisa e da adolescente de pensamentos e atitudes liberais que é exilada pelos pais na Europa. Marjane se vê diante de um novo mundo, de novas possibilidades, mas também de cultura e costumes bem diferentes.

O primeiro volume de Persépolis foi lançado na França em 2001, acompanhado de mais três volumes. Foi um grande sucesso por lá e logo o livro passou a ser publicado em vários outros países. Em 2007, com direção de Marjane e Vincent Paronnaud, a história foi para as telonas.

A adaptação para o cinema deu vida e ainda mais beleza aos desenhos de Marjane. E, mesmo não sendo comparável ao livro, o que geralmente acontece na maioria das adaptações, o longa-metragem consegue capturar os momentos mais importantes e emocionar por sua história real.

O filme ganhou prêmio no Festival de Cannes em 2007 e foi indicado ao Oscar de melhor animação. O governo iraniano é que não gostou nem um pouco. Chegou a enviar uma carta à embaixada da França em Teerã contra o filme, acusando-o de retratar incorretamente a Revolução Islâmica.


sábado, 25 de outubro de 2008

GAROTOS SÃO DE MARTE

por Carolina Nogueira


Ensinando a Viver (Martian Child, EUA, 2007) é baseado em um conto de David Gerrold, autor de roteiros para séries de ficção científica como Jornada nas Estrelas. No filme temos um outro David, também escritor de ficção científica, e um pequeno marciano em missão exploratória na Terra. Mas não espere invasões extraterrestres ou batalhas tecnológicas. Ensinando a Viver retrata com uma delicadeza infantil o dilema humano, ou talvez shakespeariano, do ser ou não ser.

David Gordon, interpretado por John Cusack, é um escritor viúvo que decide, sozinho, realizar o sonho de sua falecida esposa: adotar uma criança. O filme aborda superficialmente o processo de adoção, não apenas a burocracia, mas também os conflitos enfrentados pelo personagem ao imaginar as conseqüências da paternidade.

John Cusack tem colecionado papéis de destaque em filmes bem sucedidos como Identidade (Identity, EUA, 2003) e O Júri (Runaway Júri, EUA, 2003). Em Ensinando a Viver, ele deveria ser, mais uma vez, o centro das atenções, mas encontra um rival a altura em Bobby Coleman que interpreta Dennis, o garoto órfão que acredita ter vindo de Marte.

Dennis é um personagem fascinante com sua atitude filosófica de experienciar o mundo como se este fosse novo e surpreendente. O pequeno passaria facilmente por um personagem de Jostein Gaarder, autor de O Mundo de Sofia. Dennis tem problemas de relacionamento intensificados por sucessivos abandonos. Sua fragilidade emocional é sugerida logo no início do filme quando o garoto nos é apresentado dentro de uma caixa onde se lê “frágil”.

As histórias de David e Dennis se entrelaçam naturalmente graças aos pontos de identificação entre eles. Quando criança, David tinha problemas parecidos com os de Dennis: dificuldades em se relacionar, atitudes “estranhas” e, principalmente, a fuga através da imaginação. Ele acredita ser capaz de ensinar o garoto a se relacionar com o mundo e a agir como todas as pessoas, assim como ele conseguiu fazer.

A tentativa de mudar o comportamento de Dennis é um dos pontos centrais do filme. Na tentativa de evitar que ele seja rejeitado pela sociedade, a condição de “humano” lhe é imposta. Em uma das cenas, o garoto questiona se é bom ser igual a todo mundo e acaba sem respostas. Mas Dennis não é o único personagem a ser questionado em sua autenticidade. O Próprio David, em uma das cenas, tem de ouvir a máxima: “Por que você não pode ser como nós queremos que você seja?”. Existe um grande dilema entre a necessidade de se encaixar na sociedade e a de ser quem se é realmente, fazer o que se acredita.

Também ganham destaque no filme, os laços familiares criados pelos personagens e seus encontros com temas como perda e confiança. Dennis é uma criança que convive com o trauma do abandono e se protege mantendo um distanciamento do mundo que o cerca, reafirmando para si que ele não pertence àquela realidade e que um dia será resgatado e realmente querido em seu verdadeiro lar. Ele precisa descobrir que seu verdadeiro lar pode ser na Terra, ao lado de David.

Dirigido por Menno Meyjes, mais experiente como roteirista - Meyjes escreveu, por exemplo, o roteiro de A Cor Púrpura (The Color Purple, EUA, 1985) –, Ensinando a Viver não chega a arrancar lágrimas dos espectadores, mas comove ao narrar a história de um pequeno marciano que precisa aprender a ser como todos nós, sem deixar de ser quem ele realmente é.


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Plastique Noir faz show na Feira da Música

Foto: Ana Cristina Teixeira
Assistir a um show da banda de dark wave cearense, Plastique Noir, é se transportar para o final dos anos oitenta e início dos anos noventa, época na qual a cultura gótica (em seu auge melancólico, porém dançante) reinava em absoluto no cenário alternativo por meio de grupos como The Cure, The Smiths e Depeche Mode. Foi o que o público de Fortaleza pôde perceber durante a apresentação de, aproximadamente, 40 minutos realizada no último dia 21, dentro da programação da Feira da Música, no Centro Cultural Banco do Nordeste.

Fazendo uso de uma bateria eletrônica e muitos sintetizadores, o grupo formado por Airton S. (vocal), Márcio “Mazela” Benevides (guitarra) e Danyel Fernandes (baixo), faz jus ao título de único do gênero no Ceará e não decepciona o público com um cativante desempenho ao vivo. Durante o show, foi possível notar um grande entrosamento entre os integrantes da banda, que se mostraram bem-humorados mesmo com alguns problemas de equipamento, que não chegaram, porém, a prejudicar a apresentação.

A escolha por uma bateria eletrônica se encaixa perfeitamente com as canções do grupo em sua tentativa de ser soturno, porém divertido. O baixo sempre acertado de Danyel dá um tom obscuro na medida exata, combinando-se muito bem com os ótimos riffs do guitarrista Márcio (destaque para a sua extravagante performance durante o show). O arremate de tudo isso é a excelente voz de Airton, que não deixa de remeter ao cantor americano Marilyn Manson.
Formada em 2005, a Plastique Noir demonstrou já ter um público fiel, que (devidamente vestido de preto) compareceu em bom número ao show, apesar do indigesto horário (13h40, aproximadamente). A platéia, bastante entusiasmada, cantou com a banda em músicas como “Silent Shout” e “Shadowrun”, além de pedir insistentemente pelo grande sucesso, “Creep Show”, uma das músicas mais contagiantes do grupo.

O profissionalismo demonstrado no palco pelo grupo, provavelmente, se deve às suas várias apresentações fora do Ceará, em lugares como Brasília, Bahia, São Paulo e Minas Gerais. A banda também já recebeu convite para tocar no prestigiado festival de música gótica de Leipzig, na Alemanha, ao qual não pôde comparecer devido à falta de apoio financeiro.
A Plastique Noir já lançou dois CDs independentes, Offering (2006) e Urban Requiems (2007), tendo o último sido re-lançado tanto pelo selo italiano Ekleipsi Records, como pelo alemão AFMusic. Isso retrata a boa aceitação que o trabalho do grupo possui, não só em outras regiões brasileiras, como também, em outras partes do mundo.

Apesar do pouco tempo de existência, a banda demonstrou possuir uma maturidade não, normalmente, vista em palcos cearenses, realizando uma performance que não deixa nada a dever ao seu ótimo material gravado. Tendo grandes realizações na bagagem, a Plastique Noir demonstra que é possível sair da mesmice da produção musical local, indo além, explorando novos sons e locais.
Postado por Ana Cristina Teixeira